segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

REVOLTA DA VACINA


REVOLTA DA VACINA

A revolta da vacina já indicava há 100 anos que a crítica miséria brasileira reside tanto na falta de saneamento quanto na de Educação. Foi uma manifestação popular ocorrida na cidade do Rio de Janeiro em novembro de 1904 contra a imposição da vacinação obrigatória, cujo objetivo era erradicar doenças tropicais como febre amarela, varíola, malária e peste, além de melhorar as condições de higiene da então capital da república.



No início do século 20, durante a chamada república oligárquica brasileira (1894-1930), uma parcela significativa da sociedade do País – ou ao menos de sua elite – ansiava levar ao mundo a imagem de um país tipicamente “ocidentalizado”. Esse sonho tropical esbarrava, porém, em uma dura realidade, visível para olhos atentos e palpável para a maioria dos cidadãos brasileiros: o cotidiano dos ex-escravos e imigrantes pobres. Porém esses escravos eram tratados em condições sub-humanas, geralmente analfabetos e morriam de febre amarela, peste bubônica, varíola, entre outros.
         Essa situação era ainda mais vigente nas cidades portuárias, onde o excesso de lixo nas ruas tornava o ambiente passível a proliferação dessas doenças. Em 1902 - 1906, Rodrigues Alves afirmava que em seu governo daria prioridade ao saneamento da cidade do Rio de Janeiro. No final do seculo XIX, a cidade encontrava-se em processo de industrialização, inovação e descobertas cientificas.
         Urbanisticamente, porém, a cidade ainda conservava um aspecto colonial que não condizia com os ideais de modernidade da nascente elite urbana. Para modificar esse quadro foi iniciado um processo de reurbanização que ficou famoso com a alcunha de “bota-abaixo”. A iniciativa concentrou grande parte do esforço do Governo federal naépoca. Mas, de maneira marcante, consagrou um nome que entrou para a história do Rio de Janeiro: o prefeito Pereira Passos (1836-1913).
          Tomando como modelo os famosos boulevards franceses, o prefeito arregimentou arquitetos e urbanistas no esforço não apenas de levantar construções novas na capital, mas também de demolir antigas construções que não estivessem de acordo com o projeto de país conforme o ideal positivista que inspirou nosso movimento republicano (veja o quadro “Mar positivista”).
           Na prática, esse projeto consistia basicamente na construção da avenida Central. A via, além de representar a imagem que a cidade do Rio de Janeiro queria vender ao mundo, consistia também em uma área onde a população – ou ao menos a parcela privilegiada – poderia usufruir o que havia de mais moderno em termos de consumo e entretenimento na época, além de servir como ligação entre o porto e a avenida Beira-Mar. Para concretizar o projeto, Passos ordenou a demolição dos cortiços e casebres dos bairros cariocas centrais, possibilitando não apenas a construção da nova avenida, mas também o alargamento de antigas ruas e avenidas, a ampliação da rede de saneamento e aremodelação do porto.
           Assim, milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas, geralmente sublocadas sem nenhuma formalidade documental – ou seja, não havia garantia alguma de posse –, sendo obrigadas a procurar moradia em bairros distantes do centro ou em barracos construídos nas encostas dos morros. Isso acentuou ainda mais o processo de favelização que o Rio de Janeiro vinha sofrendo desde a volta dos soldados que haviam combatido na guerra de Canudos (1893-1897).





 AFRONTA À LIBERDADE





Oswaldo Cruz
          Essa população pobre e deslocada – formada basicamente por trabalhadores mal remunerados, analfabetos e excluídos da participação política – torna-se também o alvo principal de um outro aspecto das reformas pela qual o Rio de Janeiro vinha passando: a política sanitarista, empreendida pelo bemintencionado Oswaldo Cruz, médico sanitarista nomeado diretor de Saúde Pública do Rio de Janeiro em 1º de março de 1903. Mas a já mencionada falta de atenção do Governo com essas pessoas e a ausência de uma campanha maciça de esclarecimento à população sobre os verdadeiros interesses das autoridades fizeram com que a reação a essa política fosse explosiva.
          Osvaldo Cruz iniciou sua campanha oferecendo uma pequena quantia em dinheiro para quem trouxesse ratos mortos aos escritórios da Saúde Pública, uma forma de combater a peste bubônica. Também espalhou pela cidade os chamados “matamosquitos”, homens que chegavam a invadir residências com o propósito de erradicar o mosquito transmissor da febre amarela – o que não agradava à população. Mas a polêmica se instaurou, de fato, quando o sanitarista convenceu o presidente Rodrigues Alves a decretar a lei da vacinação obrigatória contra a varíola, em 31 de outubro de 1904. . A sugestão foi transformada em um projeto legislativo, o que gerou insatisfação de diversos setores da sociedade civil. A população temia que a vacina fosse uma forma de extermínio das camadas pobres, visto que a reformulação do sistema de saúde estava ligado à modernização da cidade, Alguns julgavam imoral aplicar injeções em mulheres, muitos não entendiam de que forma se combatia uma doença mediante a aplicação do próprio vírus e ainda havia quem dissesse ser uma afronta à liberdade individual a idéia de vacina obrigatória. Houve também aqueles que, em meio ao descontentamento popular, aproveitaram para cogitar a derrubada do presidente Rodrigues Alves do poder.
          Tal política destruiu cortiços e casebres integrantes da região central da cidade para dar lugar a grandes avenidas e ao alargamento de ruas. A consequência de tais medidas foi o desenvolvimento de favelas nos morros do Rio de Janeiro e o crescimento demográfico em regiões periféricas. A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta. Mas a verdade é que os fatores que causaram a revolta iam muito além da campanha sanitarista. Influíram na revolta a pobreza e o desemprego inerentes à sociedade na época, além de medidas polêmicas como o “bota-abaixo” e os interesses de alguns setores da sociedade brasileira que se opunham ao Governo federal.





BARRICADAS PELA CIDADE

  

Iniciada no largo de São Francisco, em 10 de novembro de 1904, Carroças, bondes e postes de iluminação foram destruídos, lojas saqueadas, policiais atacados. Os populares reivindicavam o fim da vacinação obrigatória, mas aproveitaram para demonstrar também a insatisfação com o projeto de transformação do centro do Rio de Janeiro. A revolta se espalhou para a praça Tiradentes e a praça da República. Enfrentando a cavalaria, militares, estudantes e, principalmente, operários. As autoridades locais requisitaram ajuda da Marinha e do Exército, além da própria polícia – autorizada a agir com violência – e do corpo de bombeiros.
         Além disso, o Rio de Janeiro testemunhou, na escuridão da noite de 14 de novembro – a iluminação pública, composta de lampiões de gás, havia sido destruída –, a sublevação de mais de 200 cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha. Marchando em direção ao palácio do Catete, por pouco eles não derrubaram o presidente. Chegaram a entrar em choque com oficiais e soldados leais ao Governo. No dia seguinte, aniversário da República, o Governo federal decretou estado de sítio, recebendo ajuda de tropas de outros Estados enquanto a revolta se alastrava cada vez mais pela cidade.
Com a situação incontrolável, o governo suspendeu a obrigatoriedade da vacina e declarou estado de sítio. A rebelião só foi contida no dia 16 de novembro, deixando dezenas de mortos e feridos. Centenas de participantes do motim foram deportados para o Acre. Após reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi reiniciado.
          Quando, graças às forças de repressão, o Governo conseguiu conter a revolta, o saldo era dramático. Além da destruição de grande parte das ruas, praças e bairros em que ocorreram conflitos, quase mil manifestantes foram encarcerados no presídio da ilha das Cobras, e cerca de 500 foram deportados para o Acre. Centenas ficaram feridos e havia dezenas de mortos, entre manifestantes, policiais, bombeiros, agentes de Saúde e soldados.
Mesmo sofrendo resistência da população, o modelo empregado obteve resultados importantes no controle das doenças epidêmicas, melhorando a situação sanitária e de higiene na cidade do Rio de Janeiro e conseguindo, inclusive, erradicar a febre amarela e a varíola da capital.



FONTES:http://historianovest.blogspot.com/2009/01/revolta-da-vacina.html
BATISTA, Rodrigo. Revolta da Vacina. Disponivel em:http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/revolta-da-vacina/. Acessado em: 14/02/2011.

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